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Caetano Veloso repassa a estrada da vida cinematográfica e transcendental ao lançar o livro ‘Cine Subaé’ no Rio

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Caetano Veloso repassa a estrada da vida cinematográfica e transcendental ao lançar o livro ‘Cine Subaé’ no Rio

Artista se qualifica como ‘péssimo ator’, ressalta a influência de filmes de Glauber Rocha e Godard na criação da Tropicália e conta que imaginou roteiro com Gal Costa na pele de Carmen Miranda. ♪ Caetano Veloso tinha 15 anos quando foi aos prantos para a casa em que vivia com a família em Santo Amaro de Purificação (BA). Era manhã de domingo e, naquele dia, o adolescente ficou sem apetite para almoçar e se refugiou no quintal da casa para chorar sozinho. O jorro emocional veio após o então novo baiano assistir a um dos mais famosos filmes do cineasta italiano Federico Fellini (1920 – 1993), La strada (1954), rebatizado no Brasil como A estrada da vida. Caetano vira o filme em sessão matinal realizada aos domingos no Cine Teatro Subaé na Santo Amaro natal. “Foi um impacto grande. Fiquei tomado por emoções”, recordou o artista, aos 81 anos, no lançamento do livro Cine Subaé – Escritos sobre cinema (1960 – 2023), compêndio do pensamento cinematográfico de Caetano publicado pela editora Companhia das Letras com organização de Claudio Leal e Rodrigo Sombra. “Tudo começa com La strada”, ressaltou Caetano em conversa informal com os organizadores do livro Cine Subaé no Teatro Clara Nunes, na cidade do Rio de Janeiro (RJ), na noite de ontem, 21 de maio. O livro é dedicado a Duda Machado e a Rodrigo Antônio Viana Telles Velloso, irmão mais velho de Caetano que completou 89 anos em janeiro. O impacto do filme de Fellini foi um dos nortes da carreira deste artista transcendental que, quando foi morar em Salvador (BA), no início dos anos 1960, foi inserido pelo irmão Rodrigo no circuito cinematográfico da capital da Bahia. “Rodrigo viu meu interesse pelo cinema”, lembrou Caetano. As lembranças foram muitas. Diante de teatro lotado, Caetano Veloso repassou a estrada da vida cinematográfica do cantor, compositor, músico e diretor de O cinema falado, filme experimental e documental de 1986 que, quando entrou em produção, obrigou o notívago Caetano a madrugar para estar no set de filmagem nas primeiras horas da manhã. “Vendo La strada, eu percebi que o cinema podia representar os aspectos mais misteriosos, interessantes e profundos da vida”, sintetizou o artista, criador do álbum Cinema transcendental (1979) e parceiro de Gilberto Gil em Cinema novo (1993), música do disco Tropicália 2 (1993). O papo foi entremeado com a exibição de cenas de filmes que trazem o nome de Caetano Veloso na ficha técnica, seja como ator – como em Os herdeiros (1969), filme de Cacá Diegues de cujo frame foi extraída a foto da capa do livro Cine Subaé – seja como compositor, caso de A dama da lotação (1978), filme dirigido por Neville d'Almeida com base em obra de Nelson Rodrigues (1912 – 1980). Para o filme, Caetano compôs a música Pecado original (1978), motivo para o recebimento de telefonema efusivo do autor do texto. “Caetano, que você brilhe como o sol até o fim dos tempos”, disse Nelson Rodrigues no telefonema, em frase reproduzida por Caetano com imitação do timbre gutural do dramaturgo. Antes, contudo, teve Terra em transe (1967), filme referencial do cineasta Glauber Rocha (1939 – 1981) que mexeu com a cabeça de Caetano. “Era um filme mal alinhavado no sentido de feitura de cinema profissional. Mas teve uma ação muito forte sobre minha imaginação. Terra em transe foi o gatilho para o que vieram a chamar de Tropicalismo”, sintetizou o compositor que organizou o movimento pop de 1967 / 1968 com Gilberto Gil. Embora tenha estreado sete anos antes de Terra em transe e da erupção da Tropicália, o filme Acossado (1960), do cineasta francês Jean-Luc Godard (1930 – 2022), também foi apontado por Caetano como essencial na criação do movimento de 1967. Crítico de cinema nos jornais O Archote (de Santo Amaro) e Diário de Notícias (de Salvador), para o qual foi contratado pelo cineasta e escritor Orlando Senna (autor do texto da orelha do livro Cine Subaé), Caetano se qualificou “um péssimo ator, um canastrão terrível” após a exibição de cenas do filme Tabu (1982), de Júlio Bressane. Em Tabu, Bressane filmou encontro poético e imaginário entre o escritor modernista Oswald de Andrade (1890 – 1954) e o compositor Lamartine Babo (1904 – 1963), interpretado por Caetano. Se o ator é errante, o cantor é sempre certeiro. O que ficou evidente com a exibição da cena do filme Fale com ela (2002), do cineasta Pedro Almodóvar, em que Caetano aparece cantando Cucurrucucú Paloma (Tomás Méndez, 1954), tema mexicano que gravou no álbum Fina estampa ao vivo (1995) anos após ser desafiado por Neville d'Almeida ao registrar a música quando ainda vivia no exílio em Londres. O desafio veio à tona em 1994 quando Caetano lançou o songbook de músicas em espanhol Fina estampa sem Cucurrucucú Paloma no repertório. “Um dia, fui numa festa e, quando cheguei, quem abriu a porta foi Neville. Na hora, ele me disse: ‘Covarde!’ ”, contou Caetano, provocando gargalhadas na plateia do Teatro Clara Nunes. Em outro momento, Caetano discorreu sobre dois argumentos para filmes que cogitou dirigir, mas que nunca saíram do plano das ideias. Um veio à mente do artista na volta do exílio, em 1972. Caetano imaginou filme roteirizado a partir do sofrimento do compositor Assis Valente (1911 – 1958) com a ida de Carmen Miranda (1909 – 1955) para os Estados Unidos. Na imaginação de Caetano, Gal Costa (1945 – 1922), então musa da contracultura e em cartaz com o show Fa-Tal – Gal a todo vapor (1971 / 1972), personificaria a Pequena notável sem os clichês visuais associados a Carmen. O outro argumento nasceu do encontro de Caetano com Marco Polo, negro baiano que cruzava Salvador (BA) de barco. “Esse cara vive em Salvador como se fosse Veneza”, sintetizou Caetano, de volta na imaginação à Itália, país que, através do impacto causado pelo filme de Fellini na mente do então adolescente de 15 anos, marcou simbolicamente o ponto de partida da estrada de uma vida intensa, transcendental, repassada pelo artista sob viés cinematográfico, ecoando memórias e emoções nascidas nos assentos do seminal Cine Teatro Subaé. Capa do livro 'Cine Subaé – Escritos sobre cinema (1960 – 2023)', de Caetano Veloso Divulgação

Publicada por: RBSYS

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