Homenagem póstuma está agendada para 30 de abril em cerimônia no Palácio da Cidade que inclui abertura de exposição com figurinos de Cauby Peixoto, alvos da paixão dos fãs na década de 1950. ♪ ANÁLISE – Embora tenha nascido em Niterói (RJ), Cauby Peixoto (10 de fevereiro de 1931 – 15 de maio de 2016) viveu os dias de maior glória na cidade do Rio de Janeiro (RJ). Por isso mesmo, faz sentido que o cantor fluminense – morto há oito anos – seja declarado postumamente Patrimônio Cultural Carioca por meio de decreto oficial.
Em 30 de abril, às 18h, a declaração será oficializada em cerimônia conduzida pelo prefeito do Rio de Janeiro (RJ), Eduardo Paes, no Palácio da Cidade.
Iniciativa da Prefeitura do Rio de Janeiro em parceria com o Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH) e o Fã-clube Cauby Peixoto, a cerimônia também marca a abertura de exposição, no saguão do Palácio da Cidade, com peças do acervo pessoal do artista, sobretudo figurinos que as fãs de Cauby rasgavam, passionais, em movimento iniciado como ação de marketing do empresário do cantor, Edson Collaço Veras (1914 – 2005), o lendário Di Veras, mas que se tornou espontâneo.
A homenagem acontece em sincronicidade com os festejos pelos 75 anos de carreira de Cauby, já que o cantor entrou em cena em 1949, aos 18 anos, como calouro de programa da carioca Rádio Tupi. Ao todo, entre altos e baixos, Cauby Peixoto contabilizou 67 anos de carreira em 85 anos de vida.
Dono de aveludada voz de barítono, cujo volume costumava ser amplificado pelos arroubos do artista em interpretações exorbitantes que por vezes lhe impuseram o carimbo de cantor over, Cauby driblou preconceitos e se firmou como uma das referências máximas de canto masculino no Brasil. Cauby pode ter pecado por excessos, mas terminou alçado ao altar reservado aos grandes, aos que transcendem rótulos e adjetivos.
Com abundância vocal refletida nos gestos cênicos, Cauby criou escola de canto no Brasil. As lições do mestre estão perpetuadas nas gravações dos sambas-canção Conceição (Jair Amorim e Valdemar de Abreu, 1956) e Nono mandamento (René Bittencourt e Raul Sampaio, 1958), emblemas de repertório geralmente melodramático e por vezes irregular.
Figura lendária nos auditórios da Rádio Nacional na década de 1950, Cauby Peixoto foi grande o suficiente para enfrentar o esnobismo dos que lhe consideraram ultrapassado com o advento da Bossa Nova em 1958.
O cantor também soube encarar com altivez e dignidade o esquecimento nos anos 1960 e 1970 – década em que gravou três bons álbuns sem obter a merecida repercussão – até renascer para o público da MPB em 1979 com o convite de Elis Regina (1945 – 1982) para dividir com a Pimentinha as lágrimas, o sangue e o veneno do Bolero de Satã (Guinga e Paulo César Pinheiro, 1976) em gravação que abriu portas para a consagração obtida pelo cantor na sequência com o registro de Bastidores (Chico Buarque, 1980).
O resto foi uma história que ganha capítulo póstumo em 30 de abril com a declaração de Cauby Peixoto como Patrimônio Cultural Carioca. Os fãs fiéis estarão lá, gritando literal e metaforicamente “Cauby! Cauby!!”.
Publicada por: RBSYS