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Com ‘coração de menina’, Cátia de França segue a sina militante no verbo afiado do álbum ‘No rastro de Catarina’

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Com ‘coração de menina’, Cátia de França segue a sina militante no verbo afiado do álbum ‘No rastro de Catarina’

Aos 77 anos, artista paraibana reafirma a ideologia política e poética em disco autoral que reúne 12 músicas inéditas compostas entre 1962 e 2023. Capa do álbum ‘No rastro de Catarina’, de Cátia de França Murilo Alvesso Resenha de álbum Título: No rastro de Catarina Artista: Cátia de França Edição: Tuim Discos Cotação: ★ ★ ★ 1/2 ♪ “Renasci de alma lavada / [...] / Renasci de rosto sereno / Batendo meu coração de menina”, avisa Cátia de França nos versos de Fênix (1993), primeira das 12 músicas autorais que compõem o repertório do oitavo álbum da cantora, compositora e instrumentista paraibana, No rastro de Catarina. Os versos de Fênix remetem ao renascimento artístico de Cátia de França, descoberta por público jovem nos redemoinhos da internet. Já o título do álbum No rastro de Catarina – produzido por Chico Correa e Marcelo Macêdo sob direção artística de Dina Faria – alude aos versos “No Raso da Catarina / O que vejo é nossa sina / Enxergo a caatinga / Branco hospital” da letra de Quem vai, quem vem (1979), música do primeiro e mais famoso álbum da artista, 20 palavras ao redor do sol (1979). Catarina – cabe ressaltar – é a própria Cátia de França, nascida Catarina Maria de França Carneiro há 77 anos, em 13 de fevereiro de 1947 em João Pessoa (PB), onde a artista se criou numa casa em que podia até faltar o pão, mas jamais o livro, alimento da alma da mãe de Catarina, Adélia de França (1904 – 1981), primeira educadora negra do estado da Paraíba. O fomento literário embasou a obra de Cátia de França, cuja discografia foi se tornando espaçada após o lançamento do segundo álbum da artista, Estilhaços (1980). De lá para cá, foram somente mais quatro álbuns – Feliz demais (1985), Avatar (1996), No bagaço da cana – Um Brasil adormecido (2012) e Hóspede da natureza (2016) – até chegar ao atual No rastro de Catarina. Em rotação desde sexta-feira, 19 de abril, e com edição em LP prevista para o segundo semestre, o álbum No rastro de Catarina recolhe músicas compostas pela artista ao longo de trajetória iniciada na década de 1960 nos festivais paraibanos, casos de Indecisão – a canção mais antiga da safra, feita em 1962 no embalo de sofrência amorosa – e Veias abertas (1976), cuja letra versa sobre um quintal que simboliza o universo existencial de onde parte a criação da artista. Mesmo quando a música é menos sedutora, o verso se impõe, altivo, como em Negritude, música composta em 1972 com versos como “Minha pele agora é minha lei / Meu cabelo é diferente / Minha vasta mistura me torna mais gente”. As 12 músicas do disco No rastro de Catarina fazem pulsar a veia militante que sempre impulsionou a vida e a obra de Cátia. “No meio da praça que existe aqui dentro / Me vejo em protesto, nem tô me cabendo”, extravasa a artista em versos do forte refrão de Espelho de Oloxá (Cátia de França e Regina Limeira com letra de Khrystal Saraiva, 2017). Musicalmente, o disco jamais se aprisiona no conceito de música “regional”. Em resposta (Cátia de França com letra de Socorro Lira, 2021) tem sonoridade de rock, universo em torno do qual também gravita Academias e lanchonetes (1988) em arranjo que evidencia o toque da guitarra de Marcelo Macêdo. Mesmo quando eventualmente a poesia fraqueja em versos menos originais, como em Bósnia (1994), a ideologia militante da artista legitima a obra. Gravado ao vivo no Estúdio Peixeboi em João Pessoa (PB), o disco foi formatado por banda de músicos paraibanos, com Cátia de França (voz e violão de nylon) harmonizada com Beto Preah (bateria e percussões), Chico Correa (sintetizadores e samplers), Cristiano Oliveira (viola, violão e violão de aço), Elma Virgínia (baixo acústico, baixo elétrico e fretless) e Marcelo Macêdo (guitarra e violão de aço). Entrosada, a banda cai com destreza no suingue de Malakuyawa (Cátia de França, 1989) e acerta o tom mais árido de Eu (2019), música em que Cátia dá voz a poema de Florbela Espanca (1894 – 1930), de início como se recitasse os versos da poeta espanhola. Música mais recente do repertório, tendo sido composta em 2023, Meu pensamento II mostra que tudo ainda arde na mente de Cátia de França, à vontade ao retratar paisagem ruralista no toque caipira de Conversando com o Rio (2003), música que encerra No rastro de Catarina, álbum que reitera o renascimento da militante fênix paraibana de verbo quase sempre afiado e coração de menina.

Publicada por: RBSYS

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