DJ canadense subirá ao palco no 1º dia de festival com máscara de rato morto. Especialista analisa disfarces de músicos enigmáticos: 'Faz parte da tradição do entretenimento'. A principal atração eletrônica do primeiro dia de Rock in Rio deve subir ao palco com um enorme capacete de rato, algo como um Mickey Mouse de filme de terror. O DJ Deadmau5 usa uma máscara que faz referência ao próprio nome ("dead mouse" é "rato morto" na tradução para o português)
Conhecido pelas composições de house progressivo, ele lançou o primeiro álbum, “Get Scraped”, em 2005, mas só passou a se apresentar com o capacete em 2008.
Por isso, seu rosto é conhecido: trata-se do produtor canadense Joel Thomas Zimmerman. A identidade verdadeira revelada, no entanto, não diminui o fascínio sobre o rosto mascarado do artista.
O produtor canadense Joel Thomas Zimmerman é o homem por trás da máscara do DJ Deadmau5
Reprodução/CBC
É uma tática comum entre nomes da música eletrônica. O duo francês Daft Punk fez de suas máscaras um símbolo das pistas. "Estamos interessados na linha entre ficção e realidade, criando essas personas fictícias que existem na vida real", disse a dupla à revista "Rolling Stone" em 2013.
O DJ Marshmello virou um astro pop sem nunca mostrar o rosto -- e lida com dores no pescoço por ter que sustentar seu enorme (e sinistro) capacete branco. “Eu realmente não noto enquanto estou no palco porque geralmente estou me divertindo muito. Mas depois meu pescoço fica doendo”, contou em entrevista ao g1.
Já o DJ Claptone pode fazer shows em mais de um lugar ao mesmo tempo porque ninguém sabe quem é ele. Há vários intérpretes por trás da máscara.
Vício em videogame, dor no pescoço e amizade com Anitta: g1 conheceu o homem por trás da máscara do DJ Marshmello
O DJ Deadmau5 em show em São Paulo, em 2013
Raul Zito/G1
Todos esses artistas seguem uma longa linhagem de artistas que fazem do mistério seu maior merchandising - aí também estão nomes como Sia, Kiss, Slipknot e Gorillaz. Mas o que está por trás do enigma?
O que diz um especialista
A maioria dos mascarados cita a privacidade ou a "valorização da arte em detrimento da imagem" como motivação. Mas para Thiago Soares, professor e pesquisador de música e cultura pop da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), é impossível definir um elemento único que explique o comportamento de todos esses artistas. Ele faz algumas análises.
"No caso do Kiss, por exemplo, a maquiagem forte esconde até a idade deles. Eles envelhecem, mas não sofrem a repercussão disso. A máscara também redime um pouco esse lugar", avalia. "Sobre a Sia, acredito que haja de fato uma estratégia poética. Também há uma crítica ao formato da música pop, ao artista como uma figura emblemática e central."
"Todo artista constrói uma trajetória na mídia. A máscara é um componente lúdico nessa narrativa, é uma convocação para desvendar."
Mas e na música eletrônica, por que a máscara é tão comum? "Uma interpretação pode ser a crítica à supervalorização dos DJs, a essa coisa do DJ popstar", analisa o pesquisador.
DJ Marshmello no 2º dia do Rock in Rio 2022
Stephanie Rodrigues/g1
"No caso do Marshmello, por exemplo, me parece que ele também usa uma estética ligada à cultura digital, do emoji. A lógica do mascarado, do anônimo, também está muito presente na internet, com elementos como a máscara de 'V de vingança', o fake, o post anônimo."
Soares também lembra que o culto às máscaras é bem mais antigo que qualquer astro do pop. "Não é uma coisa contemporânea. Faz parte da tradição do entretenimento a dimensão circense, cênica, que flerta com o teatro", explica. "Os atores usavam as máscaras para encenar emoções. Essa ideia de esconder o rosto surgiu a partir do crescimento da visibilidade."
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Publicada por: RBSYS