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Tuca Andrada demole crenças sobre Torquato Neto na cena política de solo afinado sobre o ‘Poeta da Tropicália’

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Tuca Andrada demole crenças sobre Torquato Neto na cena política de solo afinado sobre o ‘Poeta da Tropicália’

Monólogo musical ‘Let’s play that ou Vamos brincar daquilo’ está em cartaz no CCBB do Rio de Janeiro. Tuca Andrada dança com parangolé enquanto canta ‘Marginália II’ no fim do monólogo ora em cartaz no Teatro III do CCBB do Rio de Janeiro Matheus José Maria / Divulgação ♫ Quando Tuca Andrada encerra o monólogo Let's play that ou Vamos brincar daquilo envolto em parangolé criado por Izabel Carvalho e rodopiando pelo palco do Teatro III do Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro enquanto canta Marginália II em tom apoteótico, o público já está completamente embebido no universo do poeta, compositor e jornalista piauiense Torquato Pereira de Araújo Neto (9 de novembro de 1944 – 10 de novembro de 1972) como se tivesse sorvido fartos goles de cajuína em Teresina (PI). Torquato Neto – nome com o qual o artista ficou imortalizado no universo cultural brasileiro – foi o parceiro letrista de Gilberto Gil em Marginália II. Mas pouca gente talvez se dê conta disso, pois, a rigor, Torquato Neto é conhecido a fundo somente nos nichos literários e entre os seguidores mais bem informados da MPB criada na era tropicalista. Sim, Torquato Neto foi O poeta da Tropicália, parceiro de Caetano Veloso e Gilberto Gil em músicas que atravessaram 60 anos na memória popular, embora o epiteto seja redutor. O próprio Tuca Andrada – nome artístico do ator pernambucano José Ivaldo Gomes de Andrade Filho, nascido no Recife (PE) em dezembro de 1964 – desconhecia as profundezas da obra do poeta até que, em certa noite de 2004, entrou em livraria e se deparou com os dois volumes de Torquatália (2004), coletânea de textos do poeta. Comprou o primeiro volume, Geleia geral, e a leitura lhe abriu as portas da percepção para o alcance da obra de Torquato. Decorridos 20 anos daquele encontro casual com Torquatália na livraria, Tuca Andrada roda o Brasil com monólogo musical em que demole crenças sobre Torquato Neto no ano em que o nascimento do poeta completa oito décadas. O solo de Tuca fricciona os limites do teatro e derruba a quarta parede no palco dividido pelo ator com os músicos Caio Cezar Sitonio (diretor musical do espetáculo) e Pierre Leite (também responsável pela sonoplastia, repleta de áudios com a voz de Torquato, extraída geralmente de entrevistas). Tuca Andrada em cena no espetáculo ‘Let’s play that ou Vamos brincar daquilo’ Matheus José Maria / Divulgação Entre números musicais como Pra dizer adeus (Edu Lobo e Torquato Neto, 1967), tema reinventado em clima de jazz no compasso de um charleston, Tuca por vezes se incorpora em Torquato ou em outros personagens da vida real do poeta. Mas muitas vezes se mostra em cena como ele próprio, Tuca Andrada, conversando informalmente com a plateia e passando ideologia política coerente com a postura de ter sido um dos artistas que mais levantou a voz contra o governo do ex-presidente do Brasil Jair Bolsonaro. Como a obra de Torquato floresceu em meio a uma ditadura, a cena de Let's play that ou Vamos brincar daquilo ganha fortes contornos políticos ao mesmo tempo em que confere atualidade à obra contestatória do poeta e compositor. O suicídio do artista é abordado de forma delicada ao som de Três da madrugada (Carlos Pinto e Torquato Neto, 1973), canção associada à voz imortal de Gal Costa (1945 – 2022). A propósito, Tuca Andrada jamais abafa as turbulências da alma do poeta, potencializadas pelo consumo de álcool e outras drogas, o que levou Torquato a se internar voluntariamente quatro vezes para tentar frear o vício, como conta o ator em cena. Contudo, Tuca desconstrói a imagem do artista sempre atormentado ou alucinado. A força vital de Torquato Neto é explicitada em cena, assim como a paixão pela artista plástica Ana Maria Silva de Araújo Duarte (1944 – 2016), musa de músicas como Minha senhora (Gilberto Gil e Torquato Neto, 1967), cantada lindamente por Tuca na cadência de um samba cool. Com a informalidade de papo de mesa de bar, Tuca Andrada narra fatos fundamentais da trajetória de Torquato Neto sem dar ao espetáculo a forma de musical biográfico. Tudo é descontruído intencionalmente na cena dirigida pelo ator com Maria Paula Costa Rêgo, que também assina com o solista a criação do cenário e do figurino, este naturalmente despejado e casual, composto por uma calça branca e uma camisa ou camiseta da mesma cor. Batizado com o nome de poesia de Torquato musicada por Jards Macalé, Let's play that (1872), acrescido no título da tradução Vamos brincar daquilo, o solo de Tuca entrou em cena em março de 2023 em teatro do Recife (PE), cidade natal do ator e cantor, protagonista do musical Orlando Silva – O cantor das multidões (2004 – 2016). Mas é neste ano de 2024 que o espetáculo vem percorrendo o Brasil, fazendo jus à memória de poeta e compositor pautado por consciência perspicaz. Se Torquato Neto não chegou a transgredir, exceto talvez no dramático ato final da existência, O poeta da Tropicália desafinou bastante o coro dos contentes com a geleia geral brasileira.

Publicada por: RBSYS

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